O QUE NOS ENGORDA, PODE MATAR

14/01/2024 – Tempo de leitura: 2min

Em 2023, 54,70% das exportações brasileiras de rochas ornamentais tiveram como destino os EUA. Para efeito de comparação, o segundo maior destino é a China, com 15,36% do total exportado. Foram 608 milhões de dólares que entraram somente no ano passado no Brasil vindos dos americanos, especialmente para as empresas do Espírito Santo, que ficaram com 94,04% desse montante (ou US$572mi).

Exportar para o país norte americano é fácil, direto, eles já sabem o que querem e compram muito. É cômodo vender para os EUA.

Mas essa comodidade tem um preço: uma dependência que é arriscada. Qualquer “soluço” da economia americana pode representar um risco para as empresas no Brasil, incluindo aquelas que fazem parte da cadeia produtiva, como serviços de manutenção, insumos, venda de peças e equipamentos etc.

Depois do recorde histórico das exportações em 2021, tivemos dois anos com quedas consecutivas: 4,0% em 2022 e 13,42% em 2023. Não vou falar aqui que os EUA aumentaram a importação de rochas em 2021 e 2022. Isso será assunto para outro artigo.

Portanto, o que nos traz comodidade, boas vendas e lucro às empresas brasileiras, também pode ser causa de apreensão e risco. Crescimento e queda. Não se pode depender tanto de um mercado como dependemos do americano. Temos acompanhado os esforços do CENTROROCHAS – Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais na busca pela diversificação de mercados, com atuação do projeto setorial It’s Natural – Brazilian Natural Stone em países como México, Austrália, Emirados Árabes Unidos e outros. Projeto este em parceria com a ApexBrasil.

Mas as empresas sabem ou estão preparadas para atuarem nestes mercados? Calibram suas estratégias e preparam suas equipes comerciais para uma dinâmica diferente de realização de negócios? Conhecem a cultura, inclusive negocial, desses locais? Estudaram com mais profundidade os produtos desejados? Adequaram o portifólio para atender às demandas? Conhecem as barreiras comerciais, culturais, técnicas, cadeia de valor e o “time” de cada mercado?

O choque de realidade quando se visita um desses mercados pode ser motivador e fator de crescimento para algumas empresas, mas motivo de desistência por outras, preferindo a comodidade de exportar para os EUA.

A geração de demanda em outros centros, que não a América do Norte, é tão importante quanto a manutenção e aumento do market share nesta região, mas é fundamental também atentar para aproveitar de forma inteligente as oportunidades que são geradas em outros locais do globo. O processo de abertura ou consolidação de mercados, com geração de demanda, é lento e custa caro, mas deve ser feito.

Tivéssemos iniciado esse processo a uma década atrás, estaríamos agora menos dependentes dos EUA, sentindo menos os momentos de dificuldade econômica dos americanos e aproveitando oportunidades. Então iniciemos agora para colhermos os frutos logo.

De toda forma, não podemos permitir que quem nos engorda nos mate quando passarem por alguma dificuldade.